Mulheres e raça: A luta da mulher preta para enfrentar as raízes do racismo

O Brasil ainda nos dias de hoje é o retrato da desigualdade, seja ela de raça, gênero ou classe social. Desse modo, nos diferentes espaços sociais as manifestações de disparidade estão presentes mais do que nunca, seja na educação ou no lazer, no acesso ao mercado de trabalho ou em bens e serviços. Quando damos ênfase ao recorte de “Mulheres e raça” o cenário é ainda pior. 

Isso porque os números nos trazem para uma triste realidade, as mulheres negras ainda são a maioria quando se trata de assédio, feminicídio, sexismo e etc. Além disso, os indicadores ainda nos mostram como elas estão em desvantagem em todas as áreas que tangem a sociedade. 

Só no Brasil, 21% das mulheres negras exercem trabalhos domésticos e apenas 23% desse índice possui carteira de trabalho assinada e todos os direitos trabalhistas resguardados. Já as mulheres brancas têm uma porcentagem de 12,5% e 30% deste índice possui seus direitos trabalhistas resguardados. 

5. mulheres e raça

Quando levantamos os indicadores voltados para a área da saúde, cerca de 46% das mulheres negras nunca fizeram um exame clínico de mama, já para as mulheres brancas esse mesmo índice cai para cerca de 28%. Outro dado fundamental é que mesmo as mulheres estudadas no mercado de trabalho sendo maioria, seus salários ainda são inferiores aos dos homens. 

Com a intenção de diminuir a disparidade entre gênero, raça e classe social no Brasil, na década de 90 criou-se a Organização Internacional do Trabalho, afim de reduzir ações de discriminação e racismo nos ambientes de trabalho. De lá pra cá, o Brasil assinou muitos acordos e compromissos internacionais com a mesma fundamentação, como a CEDAW (Convenção de Eliminação de todas as formas de Discriminação a Mulher) e a CERD (Convenção Internacional para Eliminação da Desigualdade Racial). 

Se você chegou até aqui, confira o conteúdo completo sobre Mulheres e raça:
  • Mulheres e raça: Desigualdade Social e politicas públicas
  • Porque mulheres pretas são alvo majoritário de assédio? 
  • Práticas de assédio
  • Porque a mulher preta é a maior vítima de feminicídio? 
  • Mulheres e raça: Pretas que fizeram história 

Vamos lá? 

Mulheres e raça: Desigualdade social e políticas públicas

Antes de mais nada é fundamental que seja apresentado alguns dados. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011, o Brasil tinha em média 195,2 milhões de pessoas, a maioria sendo mulheres. Das mulheres, 50 milhões são pretas ou declaradas pretas ou pardas, Isso quer dizer que elas representam, pelo menos, metade do total feminino do país. 

Além disso, cerca de 39,8% das mulheres pretas que são provedoras do sustento de suas famílias, estão em situação de pobreza, o que torna esse grupo ainda mais vulnerável perante ao resto da sociedade. 

Podemos ter a certeza disso, quando analisamos os dados de 2009 do bolsa família, 11 milhões de famílias eram beneficiadas pelo projeto, e desse índice, cerca de 61,3% eram mulheres negras. Elas também ocupam cerca de 26% das favelas do país. 

Desse modo, podemos dizer que a mulher periférica é majoritariamente preta e a margem dos direitos e benefícios se tratando de políticas públicas. O racismo no Brasil é real, e o conceito de que quem o enxerga é só quem quer não faz tanto sentido. Isso porque as mulheres pretas precisam encarar todos os dias os estereótipos, o preconceito, a desigualdade e a insistência de pensamentos escravocratas. 

E é por isso que, hoje, os índices não nos deixam mentir. As mulheres pretas ainda são as principais vítimas de assédio e feminicídio em todas as regiões do Brasil, confira os dados a seguir. 

Porque mulheres pretas são alvos majoritários do assédio? 

Para dar início, estudos apontam que os casos de violência contra mulheres, principalmente as negras, aumentou muito nos últimos meses. cerca de 52,2% das mulheres negras sofrem assédio hoje em dia, esse número cai um pouco quando se trata de mulheres brancas, 30%. 

Dessa forma, é fundamental analisar como a vulnerabilidade dessa classe aumenta em relação às demais, observando outros dados, uma a cada quatro mulheres sofre ou já sofreu qualquer tipo de violência, seja física, psicológica ou sexual, esse percentual equivale a 17 milhões de pessoas.  

Além disso, cinco a cada dez mulheres, relata que já viu alguma outra mulher passar por uma situação de violência em seu meio de convívio. Esses dados equivalem a cerca de 51% das mulheres. 

Fato também é que mulheres negras correspondem a maior parte de trabalhos que requer força no país, e essa tendência, infelizmente, é aumentar de agora em diante. Visto que muitas famílias ficaram desamparadas e desempregadas durante a pandemia. Reforçando ainda mais as chances de precarização do trabalho para essas pessoas. 

Retomando o assédio contra a mulher negra no país, a opressão contra elas no mercado de trabalho, por exemplo, é uma questão ainda discutida. A hierarquização do trabalho entre homens e mulheres, é visível quando os homens são sempre destinados à produção e funções de poder, e as mulheres destinadas a cuidados humanos. 

Podemos comprovar a afirmação anterior com base nos dados, em cargos gerenciais, cerca de 62% dos homens ocupam essas vagas, enquanto as mulheres ficam apenas com cerca de 37%. E por que falar sobre esses índices quando se trata de assédio? 

Práticas de assédio:

O Guia de Prevenção ao Assédio Sexual da Organização Internacional do Trabalho, tira por definição que assedio é todas as praticas que desmoralizam uma mulher sexualmente ou verbalmente, e no local de trabalho, que seja realizado ou por um recrutador ou pelo chefe, gerente, empregado, cliente e etc. 

Todas essas práticas fazem com que a mulher se sinta invalidada, violada, insultada ou qualquer comportamento hostil e irresponsável que o outro tenha. Isso porque quando uma mulher é invadida dessa forma, ela deixa de se sentir bem como qualquer outro colaborador e passa a se sentir um objeto.  

É fundamental que não só no ambiente de trabalho, mas em qualquer outro local de frequência, principalmente de uma mulher preta, algumas ações sejam levadas em conta para tentar erradicar comportamentos como esse. 

Trabalhar a diversidade de gênero e contratar essas mulheres para estar à frente de cargos de comando, é uma alternativa humana que os gestores podem ter dentro de uma organização, por exemplo. 

Leia também: Mulheres e Tecnologia (linkar) 

Outro ponto importante para que cenas como essa sejam cada vez menores, é que as mulheres se apoiem em todos os ambientes, motivar e acreditar umas nas outras pode, por exemplo, encorajar pessoas que sofrem assédio a gritar para o mundo como se sentem. Praticar a solidariedade entre esse grupo é fundamental para a emancipação do mesmo. 

Porque a mulher preta é a maior vítima de feminicídio?

Mais uma vez os índices são alarmantes, as principais vítimas de feminicídio no brasil são mulheres pretas, elas correspondem a 61% do total de óbitos. Dessa forma, é fácil visualizar a desigualdade e a violência contra esse grupo no país. 

É importante ressaltar que o racismo vem de uma construção social e por isso, é possível desconstruir e secar essas raízes. E para isso acontecer, é fundamental que seja a partir de um trabalho coletivo e que as atitudes sejam trabalhadas em cima de questões culturais e sociais. 

Outro dado importante foi durante a pandemia. A cada oito minutos, pelo menos uma mulher sofre violência e mais da metade desse índice é composto por mulheres negras. E no Rio de Janeiro esse índice para mulheres grávidas também é alarmante, cerca de 15 gestantes morreram vítimas de bala perdida. 

Além disso, também é fundamental trazer os dados sobre aborto para mulheres negras. muitas delas morrem por conta de processos inseguros. É possível analisar nos dias atuais, o quanto esse grupo está fora dos espaços sociais comuns para pessoas brancas. 

Podemos inclusive lembrar do caso Luciana Barbosa, uma mulher lésbica negra, assassinada pela polícia militar. O caso foi reconhecido como racismo estrutural pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

Além disso, quantas mulheres pretas trabalham em casas de pessoas brancas? Com baixas remunerações? Ou que não têm acesso à educação? São muitas perguntas sem respostas. 

Mulheres e raça: Pretas que fizeram história 

Você conhece as mulheres negras que fizeram história no Brasil? A primeira a publicar um livro de romance? ou aquelas que foi eleita para o cargo de deputada estadual sendo a primeira mulher a ocupá-lo? 

Muitas dessas mulheres incríveis que fazem parte da história e da origem do nosso país têm os seus trabalhos desvalorizados e pouco lembrados, mas aqui separamos algumas delas. Abaixo você vai conferir os principais nomes e como foi a luta delas contra a desigualdade racial e de gênero no país, além de contribuírem até os dias atuais com os debates sobre “Mulheres e raça”, Confira: 

Dandara

Dandara

Dandara foi a mulher preta que lutou contra o sistema escravocrata e, por isso, seu nome se tornou símbolo de resistência quilombola no séc. XVII. Ela foi casada com Zumbi dos Palmares, ele atuou como líder do quilombo e sua morte foi a inspiração para que o Dia da Consciência Negra ganhasse vida. 

Sobre Dandara, embora existam poucos registros sobre ela, acredita-se que ela tenha nascido no país, e em 1694 tenha se suicidado, após ser presa na queda do quilombo. Enquanto em vida, ela era mestre em técnicas de capoeira e foi líder feminina do exército de Palmares. 

Maria Firmina dos Reis 

Maria Firmina dos reis

Nasceu em São Luís do Maranhão, e foi a primeira mulher a lançar um romance brasileiro. Úrsula, sua obra, foi lançada nos anos 60 e o seu enredo era em torno de questões abolicionistas. 

Além disso, Maria Firmina dos Reis, também foi a primeira mulher negra a ser aprovada num concurso público do estado em que nasceu, e lá exerceu o cargo de professora. Não contente em carregar o pioneirismo das duas ações anteriores, ela também foi a pessoa que fundou a primeira escola gratuita em sua região. 

Antonieta de Barros 

Antonieta de barros

Antonieta era filha de uma ex-escrava, e nasceu em Santa Catarina. Ela foi jornalista e professora, além disso, foi a primeira mulher a se tornar deputada estadual do Brasil e a primeira deputada mulher do seu estado, isso nos anos 30. 

Antonieta de Barros lutou fortemente contra a desigualdade racial e de gênero no país, e sempre esteve à frente de questões políticas em prol dessa comunidade. Defendeu a educação de qualidade para mulheres negras, dirigiu a revista Vida Ilhoa e o jornal A Semana, além de atuar na frente do progresso feminino no país. 

Tereza de Benguela 

Tereza de Banguela

Essa foi a líder do Quilombo Quariterê, em Mato Grosso, e recebeu o título de rainha Tereza. Seu maior destaque foi por instituir o conhecido parlamento no quilombo que comandava, e lá, era aberto para discutir as regras da comunidade. 

Nos anos 70, ela foi morta por soldados do Estado, e o dia 25 de Julho existe para homenageá-la, como o Dia Nacional de Tereza de Banguela, e também o dia da mulher negra no Brasil.

Existem tantas outras personalidades negras que construíram a história do nosso país, que é quase impossível não destacá-las também. 

Entre tantas outras histórias que nos emocionam e nos enche de orgulho. A mulher preta precisa resistir, e não é de hoje. Mas a luta não é só dela, é de todos nós enquanto sociedade. E para isso acontecer, é fundamental que todos tragam cada vez mais o debate sobre “Mulheres e raça”.

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Em conclusão, o sistema de controle de ponto alternativo possui um armazenamento em nuvem, ou seja, os dados ficam armazenados com 100% de confiança, o que é muito importante para os casos de processos trabalhistas. 

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